A elite de poder portuguesa, entendida em sentido depreciativo, vive erradamente convencida que a ordem social depende da existência de classes sociais privilegiadas que auto definem essa mesma ordem e que mantém pela força e pela coação essa mesma ordem.
A elite de poder portuguesa, durante várias centenas de anos, tem assombrado este país com estes conceitos absurdos cuja legitimidade democrática é inexistente.
Tentou sempre impo-los através do uso de força despótica direta ou através de manobras encobertas, visando, por um lado, aumentar o seu poder, e por outro, impregnar de totalitarismo larvar e seminal toda a população, corrompe-la.
Se nas ordens sociais mais baixas existir “contaminação” pelos conceitos absurdos – as doenças que a elite de poder tem e despeja sobre a população – e a essa contaminação se juntarem os defeitos próprios das classes mais baixas temos o insulto e a injuria agregados num único problema mas em tamanho maior e o principal criador desses problemas são as elites de poder portuguesas.
Enquanto sociedade, queremos ter que lidar com menos problemas e menores, ou com mais problemas e maiores?
“If individuals do not occupy their legitimate position, then it will be occupied by a god or a king or a coalition of interest groups. If citizens do not exercise the powers confered by their legitimacy, others will do so. – John ralston saul
Esta contaminação tem como objetivo destruir quaisquer valores éticos exteriores àqueles que a elite de poder defende. Nada fora da fossa séptica onde estão os podres valores próprios das classes sociais, políticas e económicas que constituem as elites de poder portuguesas deve subsistir.
Se algum acaso estranho ditar que alguém se lembre de questionar estas classes de parasitas oriundos da elite de poder, acerca da efetividade dos resultados da aplicação das suas teorias ilegítimas, ou, usando o jargão pseudo neo económico oriundo das diversas seitas e sub seitas dos padres da economia, dos abades da gestão e dos monges do coaching interpessoal que pululam por aí e estão sempre a soldo de alguém ou do bolso de alguém; qual é a “produtividade” e o “ganho de eficiência” pela adoção destas ideias pseudo estratégicas aplicadas ao país e à população do país, o que se verifica é que as supostas elites de poder cá do sitio ficam imbecilizadas e amuam, e nunca respondem à pergunta ou fogem de responder.
Enquanto sociedade, queremos permitir que existam classes sociais, políticas, profissionais, que se auto isentaram de assumir responsabilidades relacionadas com a porcaria que fazem e sobre as quais são inexistentes controlos políticos oriundos da população?
Heaven cannot brook two suns, nor earth two masters.
Alexander the Great
A razão para esta atitude de amuo das elites é simples e divide-se em duas partes.
A primeira é a ideia de responsabilidade/accountability que é uma ideia de controlo que só deve ser aplicada sobre a população, nunca sobre os vermes da suposta esfera superior da sociedade (auto isentam-se através da imposição de poder social, económico e político incontrolado pela população).
A segunda é a ideia de manter as aparências que é uma ideia de controlo das perceções da população que tem sido aplicada, mas cuja densidade e eficaz opacidade começam a ser difíceis de manter. (A camuflagem que afirma que esta maneira de fazer as coisas funciona está a dissipar-se e a porcaria começa a ver-se e ela é muita, é muito suja e difícil de limpar.)
A elite de poder portuguesa é estúpida e autocrática, vive auto centrada dentro dos condomínios habitacionais, sociais, políticos e económicos fechados onde se encerrou para evitar misturar-se com a população, não fosse dar-se o caso de a população se chatear a sério e começar a exigir que as formas de ilegitimidade existentes nesta sociedade fossem expostas, primeiro, e eliminadas, depois.
Começando a perceber que este jogo de manipulação está a ser perdido, a elite social portuguesa decidiu há umas décadas atrás “modernizar-se.
Pedinchou subservientemente junto dos aliados externos do país e equivalentes elites rançosas ocidentais novos conhecimentos de marketing sociológico e político, para estar a “par” com o que se fazia lá fora e para prevenir o fim do sonambulismo cá dentro.
Ironicamente, podemos afirmar que se suspeita que o slogan turístico ” Vá para fora, cá dentro” tenha ramificações nesta forma de ver as coisas….
Indo para fora, para obter conhecimentos para ser cá dentro mais ilegítima e anti democrática a elite portuguesa (no sentido mais depreciativo possível do termo) decidiu, embrenhada que estava no mar de conselhos ilegítimos e subornos intelectuais e/ou em espécie, fazer localmente uma fusão de conceitos.
Ironicamente, podemos afirmar que se suspeita que o slogan vazio de significado” Pensar global, agir local ou vice versa” tenha ramificações nesta forma de ver as coisas…
Qual é a fusão de conceitos anti democráticos e ilegítimos?
Junta-se feudalismo, e faz-se uma “atualização” de uma teoria arcaica com pelo menos 600 anos de idade e decrepita e junta-se isto ao (neo) liberalismo. As piores derivações sociais e políticas de ambos os sistemas estão a ser fundidas e estão a começar a fundir-nos a quase todos.
O que temos atualmente em funcionamento, em Portugal, mas também no ocidente é um magnifico arranjo para alguns ( no sentido mais bordel depreciativo possível que se possa conceber) entre o neo feudalismo e o neo liberalismo, dois escarros ideológicos abjetos.
Qual é a posição semi oficial, meta oficial, pluridisciplinar oficial das tribos da política acerca deste assunto?
Quer a tribo da esquerda política, quer a tribo da direita política tem apoiado, de direito e de facto, por omissão ou gratidão, a implementação dos escarros ideológicos acima descritos com a convicção de obrigatoriedade e a estupidez normalizada que as caracteriza, misturadas com um sabor de corrupção ética muito própria.
Politicamente, dentro destas sub correntes políticas, ou lá o que são…há muitos lacaios com mentalidade de lacaio, há muitas pessoas que foram compradas, adquiridas e pagas, há exércitos de medíocres narcisistas e ultra egocêntricos, logo e como tal, porque é que a elite de poder portuguesa, como boas marionetas que são de interesses exteriores ao país e à população, não deveriam ter contaminado também as tribos políticas?
The danger is not only that these austerity measures are killing the European economies but also that they threaten the very legitimacy of European democracies – not just directly by threatening the livelihoods of so many people and pushing the economy into a downward spiral, but also indirectly by undermining the legitimacy of the political system through this backdoor rewriting of the social contract.
HA-Joon-Chang
Como o neoliberalismo (ainda) tem – neste momento histórico em que vivemos – a supremacia cultural, vomita hegemonicamente os seus preceitos culturais abjetos.
A crença dos retardados que já foram adquiridos pagos e comprados ou estão na fila para o serem e defendem a imposição disto explica-se da seguinte maneira.
Parece que os mercados “são livres”. Como os mercados são livres quem neles participa também é livre. Nesta historia encantada também parece que a sociedade e a ordem social são livres. Tese – antítese – síntese.
Saindo uma pessoa do abrigo anti nuclear onde se refugiou para não ser esmagado com tanta liberdade, começa a reparar que os retardados que defendem estas teorias e estão a soldo, esquecem-se sempre de mencionar que os “insiders” que dominam a sociedade “livre” tem – “numa sociedade livre” – acesso a credito, isto é a dinheiro e a informação sobre o que fazer com esse dinheiro, e usam-no para obter mais dinheiro e poder.
Trata-se de um leilão social-económico viciado, onde as regras estão afixadas na entrada: todos podem concorrer ao leilão, mas chega a uma altura que os que tem acesso ao credito fácil, isto é, a serem financiados pela portas de trás deste sistema e como são “insiders” vencerão o leilão.
Os restantes que foram convidados, apenas o foram para servirem de figurantes e perderem e,em paralelo, servirem de validadores oficiais do sistema de liberdade da historia encantada descrita parágrafos acima.
“We run carelessly to the precipice, after we have put up a façade to prevent ourselves from seeing it.”
Blaise Pascal
Neste conceito de “mercado falsamente livre”, uns podem obter vantagens totais por trabalharem em plena capacidade ( leverage) e podem assim ultrapassar todos os outros e investir vantajosamente. (deve ser a isto que os padres da economia, os monges da gestão e os abades do coaching se referem como sendo ” capacidade competitiva…”).
Já os restantes (os outros) que dependem de rendimento que adquiriram (pouparam) para posteriormente o investirem estão e são bloqueados.
A capacidade de quem vive apenas do seu ordenado para adquirir bens que pressuponham rendas – arrendar casa, comprar terra arável, desenvolver projetos agrícolas ou industriais por iniciativa própria tornam-se bloqueios insuperáveis para os ganhadores de ordenado.
Os que vivem de ordenado ou poupanças descobrem estar a concorrer com “os uns” que vivem de terem vantagens totais por conseguirem trabalhar em plena capacidade…
Queremos mesmo viver numa sociedade onde se fala em “mercado e liberdade”, mas onde existem regras ocultas destinadas a favorecer sempre “insiders”; o contrário de liberdade económica?
Big oil, big steel, big agriculture avoid the open marketplace. Big corporations fix prices among themselves and thus drive out of business the small entrepreneur. Also, in their conglomerate form, the huge corporations have begun to challenge the very legitimacy of the state.
gore vidal
Os insiders, os lacaios , os associados, as elites tem os mecanismos que lhes permitem aceder a credito, isto é, a dinheiro em quantidades enormes, e esse dinheiro é móvel e incontrolável.
Foram “libertados” – para usar o jargão neoliberal – de terem que competir no mercado tal como todos os outros e usam essa adquirida liberdade para prejudicar todo o restante da sociedade.
Vivem colocados numa confortável posição de gestores de monopolios rentistas com rendimentos altos garantidos e poder económico e social indisputado e ilegítimo.
Monopólios rentistas esses cujo rendimento deles obtido não é derivado de qualquer atividade produtiva, mas sim pela arrendamento desses bens a terceiros.
Os terceiros são a população.
Quais são as consequências praticas disto?
A economia e a sociedade portuguesas estão a ser “desenvolvidas com o objetivo de controlar a população” e não com o objetivo de desenvolver esta sociedade.
Suponhamos que as elites financeiras começam a açambarcar massivamente todos os bens de que a população necessita. Agua, casas, terrenos, produção. (Algo que tem sucedido em massa desde o ano de 2011, algo que antes sucedia a ritmos menores…)
É nesse contexto que se inserem os recentes incentivos ao arrendamento de casa e não à posse de habitação própria. Contudo, mesmo em profunda recessão nem sequer os salários baixos conseguem criar um controlo total e permanente desta situação.
Recorre-se a outra solução. Colocar a população em estado de divida permanente. Dessa forma elimina-se a possibilidade de a população se poder autonomizar e, caso o queira, conseguir sobreviver fora da alçada deste sistema.
É a economia de controlo das pessoas, orientada para que as pessoas sirvam as grandes corporações monopolistas e os interesses privados que capturaram o Estado. Acaso alguém saia deste sistema de controlo, é crescentemente atrofiado e bloqueado pela elite de poder e pelos lacaios arregimentados.
Deixou de ser o dinheiro que conta primariamente, mas sim o controlo de bens tangíveis dos quais o acesso a bens essenciais para a vida das pessoas são controlados por corporações.
Se a vida das pessoas for assim controlada e se as pessoas estiverem carregadas de dividas reais ou simbólicas, a população fica em estado de servidão e esses servos estarão demasiado ocupados a servirem o pagamento das dividas que tem, não podendo dessa forma questionarem este arranjo social-económico e não conseguirão resistir-lhe.
O feudalismo implica servidão ao senhor feudal. Agora quer-se o novo feudalismo: a servidão aos interesses corporativos e lacaios associados.
It is easier to resist at the beginning than at the end.”- Leonardo Da Vinci
A única forma de resistência das pessoas nas ordens baixas da sociedade ou de todos os que, não estando nessas ordens baixas abominem, sintam nojo e desprezo pela tirania que emana da elite de poder e dos lacaios arregimentados será através de auto-esforço, previsão, disciplina e planeamento no sentido de se defenderem e aos seus bens deste ataque insidioso feito pelas elites de poder.
O problema está, contudo, no facto de estas características estarem pouco espalhadas pela generalidade da população. Esta tem-se esquecido de quem é, e estas características tem sido algo que tem sido erodido e desgastado na economia de mercado apenas vocacionada para o consumo que glorifica e promove a gratificação instantânea. O curto prazo.
O ” Ser” e a noção de Ser são reduzidas a um ato de consumo. O cidadão é transformado em consumidor,(perdendo direitos nessa alquimia falsa), e depois, como consumidor, é alvo de uma lavagem ao cérebro. É assim colocado numa posição em que nem tem dinheiro, nem os recursos/ferramentas culturais necessárias para adquirir capital tangível e conhecimento/capital social.
A aplicação destas técnicas visando a promoção da glorificação instantânea assegura que o consumidor das ordens baixas da sociedade, (e das medias altas também) nunca terá hipótese ou os meios de escapar a este ” esquema neofeudal – neoliberal.
Dai ser fundamental para a promoção desta tirania, a existência de uma sociedade onde existe divida baseada no consumo orientado para a gratificação rápida.
O mecanismo psicológico da sociedade neo feudal – neoliberal pede a validação – só serás cool” (só serás reconhecido como alguém na nova ordem neo feudal – neoliberal) se consumires e te endividares para consumir.
There is massive propaganda for everyone to consume. Consumption is good for profits and consumption is good for the political establishment.
Noam Chomsky
Isto dura até ao próximo ciclo de novos produtos onde o jogo volta de novo a continuar.
É isto que explica por exemplo que estando este país e grande parte da sua população em profunda crise, se continue – nos estabelecimentos legalmente autorizados – a oferecer credito ou formas de credito a consumidores que já esgotaram o anterior ciclo de produto e não tem sequer capacidade para entrar num novo.
Quando a população/consumidor é incapaz de consumir porque o seu credito dentro deste sistema faleceu, são ” desvalidados ” da sua aptidão para viverem nesta ordem neo feudal – neoliberal.
Os “desvalidados” que ainda tem dinheiro entram no ciclo de produto – psiquiatras-psicólogos-terapeutas – em si mesmo uma forma de consumo, um novo ciclo de produto psicológico, um novo mercado que explica o que se deve fazer para voltar ao sistema de validação do neo feudalismo – neoliberal e ser reintegrado no novo ciclo de produto.
Alguns dos que não tem, ou encaixam pessoalmente o desaire e pensam em sair deste ciclo, (muito poucas pessoas) ou tornam-se criaturas mais politizadas e protestam ou resignam-se sabotando pela inação.
Outros que não tem, emigram para procurarem novas formas de validação do consumo noutro local para evitarem a fome e a miséria, mas também o desgaste psicológico e a vergonha familiar/de vizinhança que a recente situação de ” desvalidados” lhes trouxe.
Outros dedicam-se ao crime ou a atividades para ilegais.
Como sociedade, queremos mesmo ser escravos dos desvios psicopatas das elites de poder?
Como sociedade, queremos mesmo viver debaixo de um dualismo ilegitimo e anti democrático simbolizado pelo neo feudalismo – neo liberalismo?
A Irmandade de Némesis diz que não.