Portugal, uma democracia de controlo que ataca a democracia dos cidadãos – 1

“Viewed from a distance, everything is beautiful.” ( “Tacitus”)

Em Portugal a situação é simples.

Uma elite de poder, suportada desde as sombras pelas oligarquias podres e caducas impôs regras de controlo sobre os cidadãos. Estes são sistematicamente alvo de ataques baseados na iniquidade e na injustiça  que transformam a vida numa quase insustentabilidade e atrasam quer a evolução colectiva desta sociedade quer a evolução individual da maior parte dos cidadãos.

A vida colectiva foi transformada em algo quase insuportável para a grande maioria. Uma minoria obtém o espólio do que é quase insuportável para a maioria.

Este jugo opressor tem executantes.

São o aparelho estatal público, minado de cima abaixo pelas oligarquias e grupos de interesse – públicos e privados; são as grandes empresas privadas com os seus constantes abusos comerciais e fiscais, são os pequenos micro poderes caciquistas rurais e urbanos com a sua corrupção endémica, são as classes profissionais consideradas de topo com os seus privilégios profissionais ilegítimos, são os cortesãos profissionais e videirinhos amadores da comunicação social com as suas sistemáticas manipulações, são os actuais partidos políticos com a sua inexistente democracia interna, são os próprios cidadãos que se deixaram despolitizar e alhear do que se passa.

No longo exército cheio de generais mortos e executantes vivos estes são alguns dos  fundamentais que ajudam a manter este charco podre e fétido.

“O charco podre” é o outro nome para democracia de controlo portuguesa e neste ecossistema as regras são simples.

O cidadão pode ser prejudicado a todo o tempo e a toda a hora.

As empresas privadas e as castas públicas, os micro poderes caciquistas e os intermediários de negócios e da comunicação social devem ser ajudados a viver melhor e a prejudicarem o cidadão a todo o tempo e a toda a hora.

Este é o paradigma oficioso do regime.

Tacitus_quote - CONTROL

A democracia de controlo que ataca a democracia dos cidadãos funciona de varias maneiras e uma delas é a seguinte: qualquer cidadão lesado, revestindo uma qualquer das milhentas formas em que pode ser lesado, quer em termos patrimoniais, quer em termos de honra e ética, quer em termos dos seus interesses sociais e políticos,  por qualquer órgão do Estado; pelas empresas privadas de grande porte e parasitarias e/ou pelas micro empresas que adoptam estes métodos está impossibilitado de se defender.

Os benefícios desses prejuízos infligidos aos cidadãos são neutros (no sentido em que não revertem de facto para ninguém) ou são direcionados para alguma entidade profissional estatal ou corporativa que lucra (ou obtendo benefícios financeiros ou outros, ou sendo escusada de os pagar como compensação a quem foi por ela lesada).

O negócio que foi feito pelos proponentes da democracia de controlo em detrimento dos proponentes da democracia dos cidadãos tem este axioma:  o cidadão fica colocado nas situações sempre mais desfavoráveis para ele e favoráveis para os interesses da oligarquia e das elites de poder que a servem.

Como se chegou a este ponto?

A histórica oficializada mitológica defendida quer pela tribo da esquerda política, quer pela tribo da direita política apresentou este conceito de democracia dos cidadãos desde o dia 25 de abril de 1974 em diante. Esta nova versão benigna iria supostamente eliminar todos os resíduos fascizantes que vinham do anterior regime pré 1974.

Depois deste mergulho em sais de banho democráticos o cidadão ficaria protegido.

Uma nova super lei (CRP de 1976), legitimada e sujeita a posteriores revisões (onde se viriam a oficializar de facto os interesses dos oligarcas…) estabeleceria as grandes regras de justiça, segurança e liberdade, e foi apresentada aos portugueses como uma constituição altamente moderna, desenvolvida e progressista, uma das melhores constituições do mundo.

Esta mentira baseada na construção de percepções erradas, de memorandos de ideias feitas a serem inculcadas na cabeça da população serviu para legitimar e aliciar os cidadãos para o apoio a esta coisa vagamente oligárquica em que está transformada a crisálida que nunca passou a borboleta chamada República portuguesa.

40 anos depois verificamos que o nível de opressão tem vindo a crescer e começa a equiparar-se ao que existia há mais de 40 anos e serve os mesmos interesses que existiam antes do dia 25 de Abril de 1974 mais os upgrades pós, mas reveste outras formas, mais insidiosas, infinitamente podres e a opressão é agora feita com uma luva de veludo por oposição à mão de ferro anterior.

A montanha pariu um rato.

Quase nenhuns dos interesses das oligarquias foram tocados com o disposto naquela constituição.(ou na lei geral, antes pelo contrário) Existem apenas umas eleições quadrianuais e mais uns folclores semelhantes com discursos harmoniosos com periodicidade menstrual mensal para criar a imagem de uma República baseada em princípios democráticos.

 Heaven cannot brook two suns, nor earth two masters. Alexander the Great

Heaven cannot brook two suns, nor earth two masters.
Alexander the Great

Um qualquer cidadão é lesado.

A República subvertida oligárquica que temos fornece a resposta aos cidadãos. Diz-lhes que dispõem duma panóplia de meios, garantias legais e jurisdiccionais de todos os tipos, feitios e modelos.

O cidadão fica convencido que, afinal, isto funciona: se existem tantas “garantias” é porque isto é um sistema a sério e a sério.

Na realidade isto é a apenas a face do iceberg oligárquico, promovido pelas elites de poder para paralisar qualquer resposta particular, de cidadania, às injustiças e iniquidades e para defender indirectamente os interesses das oligarquias.

Os cidadãos que iniciem qualquer oposição a qualquer injustiça cometida contra si ou contra outros e exijam apuramento de responsabilidades e sanções correspondentes, quer sejam instituições estatais a ter que responder por isso, quer sejam empresas privadas observam que a lógica de funcionamento é sempre idêntica.

A entidade pública a quem foi atribuída “competência” para resolver o assunto declina fazê-lo invocando a não alocação de competências para tal ou demora eternidades esvaziando o tempo útil para resolver e acaba a passar o assunto para uma qualquer outra entidade estatal. Isto quando não diz logo que o cidadão (tendo-a efectivamente) não tem razão e passa adiante.(São sempre fornecidas justificações  que citam inúmeras leis, códigos e pergaminhos ancestrais… como justificação para manter a injustiça e a iniquidade)

Numa empresa privada o departamento ou funcionário a quem foi atribuída competência para resolver o assunto declina fazê-lo invocando a não alocação de competências para tal, ou demora eternidades esvaziando o tempo útil e acaba a passar o assunto para uma qualquer outra entidade ou pessoa dentro da empresa, quer porque tem ordens para fazer isso, quer porque não sabe, quer porque não tem competência para isso, quer porque a política comercial oligárquica defendida e definida pelo topo da empresa assim o define. (São sempre fornecidas justificações  que citam inúmeras leis, códigos e pergaminhos ancestrais… como justificação para manter a injustiça e a iniquidade)

Em ambos os casos trata-se de fazer perder tempo, encher a paciência dos cidadãos, arrastar o assunto até tempo inútil de ser resolvido. Sonegar justiça  equidade e aplicar o seu contrário, por motivos de exercício de poder político e comercial.

( Neste aspecto a autocracia das empresas privadas é ainda pior em Portugal do que o Estado  – salvo certos sectores  específicos do Estado como o fisco e a sua política quase nazi fiscal…)

Qual a conclusão a retirar?

Recusa-se atribuir isto somente a falhas momentâneas de serviços ou erros humanos; são políticas oficiais definidas pelas oligarquias e executadas pelas elites de poder.

São formas de controlo social abjectas e anti democráticas.Tem com objectivo criar distancia entre o cidadão e estas estruturas de controlo, precisamente porque visam obter e manter uma despolitização do cidadão e mantê-lo imobilizado.

E a despolitização deve aqui ser entendida como uma forma de retirar direitos ao cidadão em todas as áreas que lhe dizem respeito menos em duas: a de ser um obediente pagador de impostos altos e a de ser um obediente consumidor.

Numa democracia de cidadãos existem áreas que são atribuídas aos cidadãos e das quais eles não são autorizados a sair ou estamos na realidade numa democracia de oligarcas, passe o paradoxo, em que só a dimensão consumidores acríticos mais pagadores de impostos cabe?

E concorda-se com isto? Os membros da Irmandade de Némesis discordam.

Democracia de controlo 1

Quando a poeira assenta os cidadãos verificam que após terem sido genericamente degustados por todas estas estruturas, os seus assuntos nunca foram resolvidos, mas as entidades visadas – quer a que faz aplicar a lei, quer a visada na aplicação da lei, fizeram entre si um acordo compensatório que exclui, em termos práticos, os cidadãos de qualquer compensação. É um acerto de contas contabilístico-oligárquico que exclui o principal interessado nos assuntos em discussão.

“Viewed from a distance, everything is beautiful.” e é esta a imagem que a crisálida que nunca se transformou em borboleta emite para a população.Tudo é bonito e tudo funciona, excepto que nunca funciona.

Devemos citar o ponto 7 do Estatuto de Némesis:

7 – Todo o irmão de Némesis está obrigado a reconhecer, e a aplicar nas suas acções, o primado do humano sobre o económico e o institucional. O anti-humanismo, em todas as suas formas, será rejeitado. Tudo o que devore o Homem na sua essência é indigno de existir.

A democracia de controlo devora o Homem na sua essência  é indigna de existir.

Os irmãos recusam a democracia de controlo e nunca a aceitarão.

É o falso nome de Governo e chamam paz a solidão que criam.

“Depredadores do universo, e porque tudo falta a quem devasta, agora esquadrinham terra e mar ;ávidos se é opulento o inimigo, sobranceiros se pobre, nem o Oriente nem o Ocidente os podem saciar; são os únicos a desejar com igual paixão riquezas e pobreza. Pilhar , trucidar, roubar tomam eles com o falso nome de governo e chamam paz à solidão que criam.”

Tácito, Agrícola

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