O fetiche da comunicação

A abundância de conteúdos no nosso tempo levou a um certo endeusamento do debate e de toda a comunicação em geral. De algo utilitário (uma ferramenta se quisermos) passou a ser algo que é um fim em si mesmo. Já não serve um propósito. De facto é uma forma de evitar ter um propósito. O falar sobre algo substitui a interacção real com o objecto, o que por sua vez o transforma numa virtualidade. As pessoas falam demasiado porque têm medo de agir sobre seja o que for. Falam porque isso não tem consequências. Falam porque fogem da realidade. E enquanto alguma forma de conforto material persistir a maioria continuará contente neste jogo de auto-engano. Enquanto houver alguém abaixo na hierarquia socioeconómica que o cidadão comum possa desprezar haverá a ilusão que de alguma forma se é especial, que se entende o que se passa e que no fim as coisas até vão correr bem. A corrupção intelectual que esta mentalidade causa é particularmente danosa por ser auto-induzida.

"Quem julga caçar é caçado" – Jean de la Fontaine

“Quem julga caçar é caçado” – Jean de la Fontaine

Pois ao contrário do que a maioria dos psicólogos modernos opina esta situação não é um processo inconsciente para a maioria das pessoas. Os cidadãos estão perfeitamente cientes do impacto real do seu discurso (zero) e preferem ser inexistentes a arcar com responsabilidades. Esta forma de estar na vida leva inevitavelmente a uma certa destruição das barreiras entre o que é entretenimento e o que é suposto ter significado – já que quer o discurso sobre coisas “sérias” quer a ficção obtêm o mesmo resultado real: zero. E aqui entramos no campo da proliferação descontrolada de conteúdos sobre tudo o que se possa imaginar. É esta uma das causas dos ciclos noticiosos de 24 horas ininterruptas, das redes sociais, etc. Ao retirar a possibilidade de um discurso que leve a algo real e concreto a comunicação degenerou numa forma de entretenimento com meros objectivos propagandísticos e comerciais.

"Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante" – George Orwell

“Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante” – George Orwell

É esta dose de informação indiferenciada (em que o ficcional e o real não se distinguem), que se tornou uma droga altamente aditiva para tantos, que leva ao estrangulamento da sociedade civil. Porque a acção política, social e económica não se compadece com as necessidades emocionais dos cidadãos, ela é necessária mesmo que os cidadãos apenas estejam interessados numa interminável conversa sem objectivo. Dado este caos mental não é portanto de estranhar que até os meios de informação, nominalmente, livres (como blogues ou fóruns) se comportem como produtores de conteúdos comerciais. Multiplicam os temas e posts diários numa tentativa de dar ao utilizador a dose de droga “informativa” que ele quer, mesmo quando o necessário é uma desintoxicação e uma religação com a realidade. Numa tentativa de permanecer relevantes acabam por ser submersos num mar de símbolos e imagens.

"Where there is power, there is resistance" – Michel Foucault

“Where there is power, there is resistance” – Michel Foucault

Para quem quiser emergir desta inundação de trivialidades ficcionais o caminho é relativamente simples ainda que nem sempre agradável. Será necessário começar a aceitar que muitas vezes a realidade não satisfaz as nossas necessidades e que os substitutos fictícios só nos alienam e colocam ainda mais longe da possibilidade de um dia ser capaz de suprir essas necessidades. Em segundo lugar terá que começar por procura um porto seguro, uma fundação sólida onde possa reconstruir a sua pessoa sem interferências nem agendas – é essa uma das funções da Irmandade de Némesis. E por último começar a viver coerentemente com aquilo que se pensou, com quem somos e queremos ser. A longo prazo quem seguir este caminho encontrará estabilidade, saberá distinguir o real do falso e acima de tudo será capaz de acção real (que cause mudanças tangíveis) sem se deixar enganar por opiáceos intelectuais. Quanto aos que se afastam de um caminho de individuação e de realismo é escusado falar. Pertencem ao grupo dos náufragos da sociedade moderna. Perderam-se em alto mar e no seu delírio deixaram de ter a capacidade de distinguir entre as suas alucinações e o que realmente existe.

Limpar a lama

Há muito tempo que a Irmandade de Némesis avisa os leitores do enclave para o risco da criação de bodes expiatórios como forma de escape de energia e tensões sociais e hoje temos o exemplo perfeito. A produção teatral que está hoje a ser encenada com toda a pompa e circunstância na Assembleia da República a propósito de bancos e banqueiros encaixa perfeitamente neste quadro mental e político decrépito.

"Não há inocentes; só aqueles que ainda não nasceram ou os que já estão mortos podem aspirar à inocência" - Stig Dagerman

“Não há inocentes; só aqueles que ainda não nasceram ou os que já estão mortos podem aspirar à inocência” – Stig Dagerman

Num regime onde o que une as elites é uma pertença social e onde a comunicação entre os membros dessa elite atravessa, fácil e diariamente, as linhas partidárias todos querem dar prova de ser valentes defensores do cidadão e da justiça. Os ilustres deputados, quais defensores dos pobres e oprimidos numa fábula medieval, esmeram-se em perguntas ultra pertinentes para mostrar que a) eles são puros, b) condenam tudo o que terá passado e c) estão do lado do cidadão comum.

"Princípio: uma coisa que demasiadas pessoas confundem com "interesse" " - Ambrose Bierce

“Princípio: uma coisa que demasiadas pessoas confundem com “interesse” ” – Ambrose Bierce

Há alguns problemas com esta versão das coisas. Quando se quer apurar a verdade de algo não se nomeiam 24 pessoas para o fazer, nomeia-se um responsável. Quando se quer obter a verdade não se transmite a investigação em directo e a cores para todos verem, as audiências fazem-se à porta fechada. E em último lugar dá-se poderes a quem investiga para de facto fazer alguma coisa, seja punir ou recompensar. Assim sendo parece que objectivo é mesmo dar um espectáculo ao país, um pouco de circo. E ao mesmo tempo ilibar a classe política como um todo para ficar bem claro ao ingénuo cidadão que tudo isto é muito lamentável mas foi algo que sempre esteve completamente fora do alcance do poder político prevenir.

bureaucracy_quoteA baixeza e manipulação que o regime faz destas situações é inqualificável na sua falta de consideração para com o cidadão. É um insulto à inteligência da nação. A Irmandade de Némesis está atenta. Os Irmãos levantaram o véu das farsas operáticas que o regime e as suas instituições teceram sobre a realidade. Não seremos enganados. Não queremos uma vítima sacrificial para satisfazer os deuses, queremos uma justiça completa e total. Só nessa base poderá Portugal reerguer-se.

A Irmandade de Némesis rejeita o teatro parlamentar como forma de se estar na vida pública.

A Irmandade de Némesis não compactua com a elite de poder.

A Irmandade de Némesis está com o cidadão.

O adversário estratégico é a patologia dos ricos, das elites de poder e dos lacaios associados

“The strategic adversary is fascism… the fascism in us all, in our heads and in our everyday behavior, the fascism that causes us to love power, to desire the very thing that dominates and exploits us.” –  Michel Foucault

SERVILISMO - PÉSUm dos problemas da população consiste na recusa em entender que as pessoas que são ricas, que são poderosas, as elites de poder, os seus lacaios e demais invertebrados que as servem estão contaminadas com uma patologia perigosa e que não se resolve com os tratamentos habituais.

A população recusa entender que existem patologias nestas “sub-espécies”  de pessoas por várias razões.

Uma consiste no facto de, regra geral, o cidadão comum agir de boa fé e nunca apreende o mundo em toda a plenitude da maldade que nele existe. O mundo, para o cidadão, é inerentemente bom e justo.

Quando se lida com as patologias da elite de poder isto é uma desvantagem estratégica e táctica absolutamente letal para quem falha em reconhecer isto, precisamente porque olha para estas pessoas como se elas fossem justas e sérias.

Condescende-se.

Outra consiste na saturação que é promovida através dos meios de comunicação social, elevando ao semi estatuto de deuses, figuras imbecis da elite de poder, milionários e demais aproximações que gravitam à volta dela.

Glorifica-se a quantidade de dinheiro que alguém tem, visando intensificar a suposta “autoridade moral” que essa pessoa ou pessoas terá para mandar na sociedade.

A quantidade de dinheiro deve ser recusada como benchmark do contrato social.

Existem terapias e soluções para obviar a esta saturação imbecil, mas por si só não chegam para conseguir apagar de forma imediata um legado de décadas de bombardeamento de imagens culturais destinadas a amenizar e adocicar a imagem dos muito ricos e poderosos e dos crimes que estes cometem e que incitam outros a cometer.

São poderosas terapias, com resultados práticos visíveis, mas demoram tempo.

O Enclave é eterno.

A população, por auto convicções próprias derivadas do seu desconhecimento interiorizado de que a elite de poder é reles e suja, e porque tem aceite como boa a informação passada pelos lacaios da comunicação social  de que “aquelas pessoas” são de confiança, tem-se traído a si mesma, tem-se auto corrompido, tem destruído a sua própria integridade e sentido de si e dos seus descendentes.

Como interiormente, na psique colectiva, a generalidade da população não apreende ou recusa apreender que os ricos, os poderosos, a elite de poder é uma sub espécie  organizada de forma oligárquica, moralmente corrupta, sem quaisquer princípios éticos ou de honra torna-se necessário tomar medidas para forçar o reconhecimento colectivo de que estas pessoas são mesmo assim e que estamos todos em grande perigo se fecharmos os olhos.

“There are plenty of ugly things about wealth and its possessors in the present age, and I suppose there have been in all ages. There are many rich people who so utterly lack patriotism, or show such sordid and selfish traits of character, or lead such mean and vacuous lives, that all right-minded men must look upon them with angry contempt… ~Theodore Roosevelt

“There are plenty of ugly things about wealth and its possessors in the present age, and I suppose there have been in all ages. There are many rich people who so utterly lack patriotism, or show such sordid and selfish traits of character, or lead such mean and vacuous lives, that all right-minded men must look upon them with angry contempt…
~Theodore Roosevelt

Evitando fechar os olhos deve-se trabalhar para rebentar a ilusão que é vendida como verdade. E a ilusão consiste em afirmar que se um pobre/classe media/media-alta  trabalhar muito e portar-se bem irá ficar rico como os ricos e pertencer à elite de poder.

Estudar muito, e ” ascender socialmente” via esforço individual é – na época actual – a maior patranha que os ricos, a elite de poder e os seus apaniguados promovem como sendo a solução para o pobre ou quem não pertence à elite de poder chegar a ” lugares”.

Uma falsa cultura de mérito é vendida como boa e como exemplo.

Isto é feito num sistema já pré armadilhado para fazer perder quem joga este jogo.

Acaso se aceite jogar este jogo ou acaso se desconheçam os contornos do que se passa, mal se chega ao final do jogo ser-se-á imediatamente alvo de propostas de corrupção visando aceitar-se ficar dentro do sistema mas apenas e só sendo corrupto, embora os resultados concretos para quem aceita isto deixem sempre muito a desejar.

O Enclave recusa jogar este jogo viciado.

Isto não é (e nunca foi) um problema de educação de elite ou de massas feita para as elites ou para as massas, isto é um problema de ganancia e poder.

Os “ricos”, supostamente as pessoas mais bem preparadas da sociedade portuguesa, tem sido aquelas que tem destruído mais valor social e económico nos últimos anos e antes dos últimos anos.

Pertencem todas à elite de poder.

São as mais bem preparadas em destruir.

TURN THE TABLEJá a geração mais nova, apelidada de “a geração mais bem preparada de sempre” tem sido a que mais falha, mais desiste, mais emigra, mais é expulsa ou se auto expulsa do sistema e do pais, do mercado de trabalho, da sociedade, precisamente porque falha em reconhecer que “não é a mais bem preparada de sempre”.

É a mais bem preparada de sempre para falhar.

A elite de poder contaminou-a com Hubris.

Num jogo viciado, os que não pertencem à elite de poder, deveriam voltar o tabuleiro de jogo.

Em vez disso, como patetas condescendentes que são, percebem ou sentem que estão a ser manipulados mas continuam a aceitar jogar um jogo viciado que no final lhes trará zero de resultados e um definhamento pessoal, social e económico lento.

São opções.

O enclave e a Irmandade de Némesis recusam essas opções.

Recusamos um jogo social corrupto com vencedores pré programados.

ANUNCIO DE EMPREGO - GERACAO MAIS BEM PREPARADA 2014-11-21

Enquanto os membros da “geração mais bem preparada de sempre” são preparados para serem os membros da “geração mais bem prejudicada de sempre”, * a  elite de poder subsidia de forma marxista-socialista-comunista os seus rebentos imbecis, que são medíocres, e promove-os constantemente dentro de um sistema já pré viciado e com resultados já pré definidos. Este combate de boxe social e económico já tem vencedores  pré anunciados e pré programados.

(isto dura até aos próximos membros da próxima geração passarem a ter esse titulo de honra e gosto duvidoso. As maquinas de moer carne humana e destruir gerações de portugueses estão sempre em funcionamento…nelas o desemprego é inexistente…)

Nas escolas de elite, os tipos ricos e milionários que as frequentam, tem excelente educação e aprendem anos a fio a arte de governar e como mandar socialmente.

Isto é uma forma habilidosa de criar acção afirmativa para os ricos e poderosos, de criar quotas para géneros, de fazer discriminação em favor de quem já está numa posição em que por si só já tem dinheiro e poder para se conseguir discriminar sozinho sem ajudas exteriores.

Esta discriminação a favor dos interesses dos rebentos endogâmicos da elite de poder e da salvaguarda do seu direito à mediocridade sem serem punidos socialmente ou profissionalmente por isso, visa criar separação social entre ” eles” e o resto da população.

Mas, e mais importante visa promover dentro das fileiras da elite de poder, a generalidade dos atrasados mentais que delas emergem, dos medíocres,  da estupidez selecta das boas famílias, que poderia estar assim salvaguardada de aparecer a chatear o resto da população, mas que, através deste expediente, é impingida ao resto da população.

A maior parte destas pessoas depois de ter sido levada ao colo ilegitimamente, vai-se dedicar aos “negócios”, mas como são medíocres e estúpidos apenas sabem destruir valor e queimar recursos e impedir terceiros oriundos das fileiras mais baixas da sociedade de ascenderem (esses sim) por mérito.

Nesta sociedade nada tem a ver com inteligência ou mérito.

ANUNCIO DE EMPREGO - ECONOMISTA MALABARISTA 2014-11-21

O jogo social é viciado da seguinte maneira.

Se fores pobre só tens uma chance (algumas vezes, não todas).

Se fores rico, pertenceres à elite de poder ou estiveres interessado em ser um lacaio  subserviente tens inúmeras chances e és sistematicamente salvo das asneiras que fazes, da mediocridade que exibes, por vezes ao longo de decénios e após isso, se necessário, mais ainda até ao infinito.

Esta forma de subverter o jogo social é particularmente sinistra e tenebrosa.

Os ricos perpetuam-se a si mesmos e perpetuam a mediocridade à custa do resto da população e com o dinheiro e o poder que adquiriram ilegitimamente armadilham o sistema e vivem à custa de toda a restante população.

Parasitas.

Esta mesma elite de poder recheada de oligarcas e kakistocratas possui e controla os meios de comunicação social e assim garantem que nenhuma critica que lhes seja feita passe para fora do circuito.

Nas escolas para elites, os membros da mesma vivem num ecossistema em que as crianças dos membros da elite de poder são educadas de forma a pensar que todos os outros as servem.

Isto é “educar” para se ter uma concepção do mundo que só irá gerar problemas e conflitos com a demais população.

Esta mentalidade faz a afirmação plena que os membros da elites de poder são diferentes porque tem muito dinheiro, logo os restantes são produtos e são dispensáveis.

Há uma indiferença gélida e uma hostilidade brutal em relação a todos os outros membros da sociedade porque o resto da população é vista como um produto.

O único contacto que esta gente tem com pessoas comuns é com aquelas pessoas que trabalham para eles.

Os jardineiros ou motoristas.

Politicamente, como estão fora de contacto com a população, podem retirar-se para santuários  onde julgam que não serão atingidos.

E o processo de autismo destas pessoas mais aumenta, precisamente por julgarem que, por fazerem retiradas a seu belo prazer e poderem voltar no futuro isso significa que não tem quaisquer tipo de restrições.

Dai à revolução violenta há uma ténue linha.

The Long Haul

The Long Haul – NO

We’ll be fine I’m sure
Just use the other door
I wanna have a house like they did

We wrestled till we cried
They fucked our state of mind
Don’t celebrate me ‘cause I’m jaded

Welcome to the storm
We’re babies till we’re born
Then adults from our first day breathing

Our innocence was staged
The jury all got paid
I’d lock it but it’s not worth stealing

When the drunks start singing this way
Baby’s got her best dress stained
I hope you got a minute
Hope you want me in it
For the long haul
All night long

We’ll be fine I’m told
Together we’ll grow old
So kiss me till the last train leaving
Then stand yourself by me
We’ll fall until we’re free
This helium prefers no ceiling

When the drunks start singing this way
Baby’s got her best dress stained
I hope you got a minute
Hope you want me in it
For the long haul
All night long

It must get better than this
Cause as far as I can see
The world belongs to me
There’s a place at your table with my name on

When we walk
They roll the carpet out at our feet
And when we talk
They gather around in chairs on the street
Cause we’re the kings of imagining things

When the drunks start singing this way
Babies got her best dress stained
I hope you got a minute
Hope you want me in it
For the long haul
All night long

When the drunks start singing this way
Baby’s got her best dress stained
Hope you got a minute
Hope you want me in it
For the long haul
All night long

We’ll be fine I’m sure
Just use the other door
I wanna have a house like they did

O novo normal

O mundo muda rapidamente e nas últimas décadas o processo parece estar em aceleração. Não porque o prometido mundo híper tecnológico nos tenha aberto novas portas mas precisamente porque falhou em cumprir as suas promessas de um futuro melhor. Qualquer pessoa que fosse um adulto nos anos 70 quase não consegue reconhecer a dimensão das mudanças ou dos problemas que parece que se multiplicam diariamente. Tais pessoas têm a tendência de ficar presas a modos de percepção e pensamento que já não coincidem com o mundo em que vivem, habitam em grande parte no passado apesar dos seus corpos estarem no presente.

“Construímos estátuas de neve e choramos ao ver que derretem” – Walter Scott

“Construímos estátuas de neve e choramos ao ver que derretem” – Walter Scott

Os fenómenos eleitorais no mundo ocidental (e falo deste canto do globo porque a) é onde vivemos e b) grande parte do resto mundo nunca chegou a ter democracias reais) têm-se degredado com o passar dos anos. Isto é mais visível nas taxas de abstenção crescentes em todos os países – ou seja, não se trata de algo isolado ou dependente de condições locais. É fácil para os comentadores integrados no sistema ignorarem esta situação limitando-se a falar de um desinteresse por parte dos cidadãos face à política. Assim arrumam o assunto e responsabilizam o eleitor por qualquer falha que apareça no funcionamento das instituições. Mas, como sempre, a realidade é mais complicada. Não só o interesse pela vida política está a desaparecer como as próprias lealdades daqueles que ainda votam estão a tornar-se mais voláteis. Criando padrões de governo cada vez mais erráticos e sem estratégia de longo prazo.

“A fé pode ser definida, em resumo, como uma crença ilógica na ocorrência do improvável” – Henry Mencken

“A fé pode ser definida, em resumo, como uma crença ilógica na ocorrência do improvável” – Henry Mencken

As instituições Europeias (e alguns dos principais países da União) têm estado muito atentas a este fenómeno sendo que na década de 90 chegaram a uma decisão final. Não iriam ficar dependentes de qualquer ordem política que pudesse emergir deste caos. Foram cortando os vários elos que as ligavam a uma legitimidade democrática e investiram na criação de um novo mito. O do perito. Consequentemente as suas decisões têm-se revestido cada vez mais de um carácter teoricamente “neutro” e técnico, de forma a poder afirmar a independência e validade seja qual for o resultado do caos democrático. Os que tiverem uma memória um pouco mais longa que a maioria conseguirão com certeza lembrar-se de debates de há uma década atrás em que desesperadamente se queria colmatar o défice democrático da União Europeia. Face a estes novos desenvolvimentos é fácil perceber que as instituições da UE não estavam verdadeiramente empenhadas na questão. Estavam apenas a comprar tempo. Enquanto os debates se arrastavam dentro e entre nações a UE já estava a restruturar a sua organização segundo um novo critério, o de uma suposta tecnocracia. Quando o processo ficou concluído havia compreensivelmente pouco interesse em continuar o debate sobre o défice democrático já que a prestação de contas perante o eleitorado tinha perdido quase toda a sua relevância.

Este processo não se deu apenas ao nível de uma burocracia europeia mas também dentro de todos os países centrais da União. À medida que a UE provava que conseguia estabelecer credibilidade baseando-se apenas no seu estatuto como supostos peritos os vários governos relevantes do continente foram replicando as mesmas ideias e estruturas dentro das suas fronteiras. O resultado foi um agravamento severo da apatia e volatilidade eleitoral (explicando a subida por toda a Europa de partidos extremistas e, ironicamente, profundamente antidemocráticos) levando a que o distanciamento entre o cidadão e o poder deixasse de ser um fosso para passar a ser um abismo. Fica assim mais claro porque é que nas últimas décadas temos vindo a assistir a um amalgamento das tendências e partidos políticos, tornou-se irrelevante saber o quadrante político das entidades partidárias porque as decisões verdadeiramente relevantes foram transferidas para entidades de “peritos” que não se sujeitam a qualquer escrutínio.

“The point is that we are among those who cannot get their mouths around all the little Yeses that add up to tacit acceptance of a world run by crackpot realists and subject to blind drift. And that, you see, is something to which we do belong; we belong to those who are still capable of personally rejecting. Our minds are not yet captive.” – C. Wright Mills

“The point is that we are among those who cannot get their mouths around all the little Yeses that add up to tacit acceptance of a world run by crackpot realists and subject to blind drift. And that, you see, is something to which we do belong; we belong to those who are still capable of personally rejecting. Our minds are not yet captive.” – C. Wright Mills

Os países da periferia apesar de também se irem adaptando ao novo sistema estão um pouco desfasados dos países centrais ou das instituições europeias, mas agora que os pânicos financeiros acalmaram um pouco (e os interesses dos credores foram assegurados de e transformados numa obrigação perpétua) começamos a sofrer pressão para acelerarmos o ritmo da adaptação. E na primeira linha desta transformação está a legalização do lobbying. Só a menção deste termo gera desconfiança no cidadão médio que vê nela apenas a legalização do que até então se fazia a portas fechadas. E em grande medida a sua desconfiança é justificada já que Bruxelas e Washington (os centros mundiais de lobbying) não são conhecidos pela sua transparência apesar da abundância de legislação a regular esta actividade. Mas as consequências são algo maiores do que apenas maquilhar o que hoje seria considerado pouco ético ou mesmo ilegal. No centro do lobbying está a ideia de que qualquer grupo (seja ele qual for, cidadãos, empresas, grupos religiosos, etc) pode e deve pressionar os governos e parlamentos a agir da forma que lhes é conveniente, mesmo que isso desrespeite completamente os direitos fundamentais de outros. Claro que isto abre uma verdadeira caixa de Pandora. Aceitar o lobbying como parte normal do processo político e social é escrever no contrato social que o dinheiro pode comprar acesso e influência. É admitir que nem todos somos iguais. É negar a ideia de justiça. É dizer que somos ouvidos apenas na medida do que podemos pagar. É organizar a sociedade como uma gigantesca entidade comercial que responde apenas aos seus accionistas.

“You read constantly that banks are lobbying regulators and elected officials as if this is inappropriate. We don’t look at it that way” – Jamie Dimon  (CEO da JP Morgan Chace)

“You read constantly that banks are lobbying regulators and elected officials as if this is inappropriate. We don’t look at it that way” – Jamie Dimon (CEO da JP Morgan Chase)

O que acontece a quem não tiver dinheiro para comprar acções deste projecto? Ainda fará parte do contrato social? Em que medida? Será que mesmo aqueles grupos que representam causas legítimas (direitos humanos, luta contra a pobreza, acesso à justiça, entre outras), e que têm disciplina organizacional e fundos suficientes para ter voz, acreditam por um segundo que conseguem reunir os meios para igualar ou superar qualquer grande empresa ou sector económico?

Como é normal num sistema com graves deficiências de funcionamento, e com um grau de apoio popular cada vez mais estreito, as decisões mais importantes são remetidas para acordos mais ou menos secretos e comissões políticas e jurídicas labirínticas de forma a que o resultado seja ou ocultado ou incompressível. Algo que tem o poder de restruturar por completo o equilíbrio de poder entre os cidadãos e que de facto voltar a introduzir critérios de voto censatários (voto cuja existência ou peso depende do rendimento do eleitor) tal como existiam no século XIX pode ser aprovado sem que o cidadão médio compreenda 10% das consequências que tal acarreta a longo prazo. De facto seguindo o retrocesso lógico os próximos passos seriam a permissão de compra de votos (afinal tratar-se-ia apenas de uma troca económica e não de algo político) e o estabelecimento de “votos especiais” (com mais peso) para determinados actores que sejam considerados como “especialmente relevantes” para a sociedade. Podemos esperar uma feroz campanha nos corredores do poder por parte dos nossos “liberais”, ao serviço dos seus empregadores, e se não houver qualquer reacção popular a esta reclassificação dos cidadãos em categorias económicas podemos ter certeza que irão sempre pressionar para que se vá mais longe. Até onde perguntarão? Até onde os deixarem.

“Arrependimento é a virtude das mentes fracas” – John Dryden

“Arrependimento é a virtude das mentes fracas” – John Dryden

Se mais uma vez o cidadão se fechar na sua concha de apatia e hedonismo e não prestar a devida atenção ao que se está a passar perderá qualquer credibilidade para vir reclamar daqui a 5 ou 10 anos. A sua oportunidade de acção é agora. Enquanto o processo ainda está num estágio embrionário. Depois será tarde demais, quer politica quer moralmente. O cidadão tem que se convencer que nem tudo na nossa realidade é reversível. Nem tudo pode ser corrigido. Nem sempre há mais tempo para “pensar” e debater. Há decisões que uma vez tomadas são permanentes.

Realidades Democráticas V

Enquanto Portugal está no processo de se transformar num dos primeiros países da União Europeia a regredir ao estatuto de região anárquica do terceiro mundo as máquinas de produção de desinformação da elite continuam ocupadas a vomitar as habituais peças de ficção social para manter as hostes calmas. Num esforço de injectar algum sentimento de normalidade no que é uma situação cada vez mais aberrante, a máquina propagandística continua a tentar desesperadamente apelar aos segmentos mais desafectados da população (os jovens, os desempregados, os insatisfeitos, os condenados à pobreza abjecta de forma permanente… os que têm maior apetência a romperem a ficção do contrato social que temos), martelando incessantemente as mesmas palavras: mantenham-se calmos, não há motivo de alarme, tudo irá correr bem, o vosso dia chegará. Claro que é um esforço vão porque a distância entre a mensagem e a realidade diária é de tal forma visível que nem o mais crédulo jovem alguma vez poderia dar crédito a estas “vozes razoáveis”, que como sempre se querem fazer passar por meros peritos técnicos – afinal de contas num país marcado por um atraso crónico face aos seus vizinhos o tecnocrata (vulgo “perito”) ganhou o estatuto próximo de um alto sacerdote.

"A paciência dos povos é a manjedoura dos tiranos."  - Emilio de Marchi

“A paciência dos povos é a manjedoura dos tiranos.” – Emilio de Marchi

Prova IV: enquanto a larga maioria dos jovens está desempregada ou trabalhar em posições em muito inferiores ao seu nível real de habilitação e capacidade profissional o sistema continua a mandar discursos cá para fora sobre seriedade, profissionalismo e iniciativa. Como se estas pessoas tivessem vivido num casulo até hoje. Como se nunca tivessem tido contacto real com as realidades do mundo profissional e em particular com o carácter arbitrário e despótico (quando não mesmo totalitário) que este assume em Portugal. No campo do formalismo político tenta-se a mesma coisa, insistindo que ao se criar mais um nível eleitoral (com candidatos pré-seleccionados claro) se aproximou o cidadão comum ao poder político. Como se tais mudanças estéticas tivessem de facto criado alguma alteração à dinâmica de funcionamento de poder que existe entre aparelhos partidários e a elite que servem. Como se o cidadão comum não soubesse ver que não ganhou nada com o negócio. Nada muda excepto o ilusório. O sistema está podre e não consegue adaptar as suas acções ou mesmo palavras à nova realidade. Continua de forma autista a repetir os mesmos mantras rezando aos céus que alguma solução milagrosa se apresente antes que os cidadãos se apercebam que o estrago feito é irreparável e resolvam pedir contas a alguém.

"Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser." - Johann Wolfgang von Goethe

“Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser.” – Johann Wolfgang von Goethe

Moral da Prova V: A elite é de facto indiferente às realidades da população. Não sabe o que se passa no terreno nem quer saber. Tem um discurso oficial a promover e apenas lhe interessa o formalismo vazio para poder manter as estruturas reais de poder inalteradas. Os seus servidores mais imediatos, quais formigas atarefadas, trabalham sem descanso para dar pelo menos um verniz tecnocrático e popular a uma realidade verdadeiramente imoral em todos sentidos. Ambos os grupos estão investidos neste processo até à medula e sabem que a sua sobrevivência depende da manutenção destas ficções e da fragmentação social que sempre fomentaram (as falsas divisões de classe, de profissão, de idade, de orientação política… entre muitas outras falsas categorias). Quanto ao cidadão… esse está a ser manipulado e ridicularizado por tais tácticas e continuará nesta posição até ter a honestidade de admitir a si mesmo qual a sua realidade pessoal e ganhar a coragem para fazer algo.

As sombras mudam de posição

O Verão costuma ser morto e este ano não foi excepção. Aproveitou-se o vazio noticioso para ir introduzindo temas relevantes que não tiveram de todo a atenção detalhada que mereciam. Foram apenas benevolamente comentados pelos suspeitos do costume que tudo fazem para mostrar a inevitabilidade e normalidade de falências bancárias, manobras de bastidores partidárias, estranhas relações entre público e privado e infindáveis cortes no nível de vida do cidadão. Haverá aqui algo de novo que mereça comentário? Vamos dar alguns passos atrás, para ganhar alguma distância crítica, e vamos dissecar a situação estratégica sem a distracção dos faits divers. O leitor será o juiz sobre o que realmente se passa com o seu país.

Alexander Litovchenko - Charon Carries Souls Across the River Styx

“É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la” – Séneca

As falhas estratégicas da elite de poder não precisam de mais estudos aprofundados por parte de grandes académicos, porque, como em tudo na vida, a prova está sempre nos factos empíricos. E os factos são os seguintes: Portugal saiu de uma rota de convergência social e económica com o resto da União Europeia há pelo menos duas décadas; As instituições públicas e privadas são feudos (no verdadeiro sentido medieval da palavra) geridas com punho de ferro mas também com total inépcia por membros da elite ou do seu “secretariado” (vulgarmente designados de “gestores”); O mérito é uma palavra oca, não se traduz em qualquer recompensa no mundo real ao contrário do que os meios de comunicação fiéis ao regime querem fazer transparecer (no entanto o número de falências de empresários recentes – ou seja, pessoas que acreditaram no discurso oficial e colocaram a sua vida em jogo num qualquer investimento – não é sequer mencionada ou contabilizada); O empobrecimento generalizado há mais de uma década que deixou de ser um fenómeno ocasional ou temporário para se tornar sistemático e irrevogável; O sistema de troca de favores entre um circuito fechado de amigos e conhecidos foi, é e parece que continuará a ser a norma de funcionamento para obter seja o que for, falemos de “alta política”, uma empresa internacionalizada ou de uma junta de freguesia perdida no Portugal profundo. Estes são os factos. Não mudaram. O país é este. E como muitas famílias estão a descobrir, à medida que os seus rebentos acabam os seus estudos ou são obrigados a abandoná-los por incapacidade financeira, o elevador social está fechado para reparações por período e indeterminado.

“Num país bem governado a pobreza é algo que deve causar vergonha; num país mal governado a riqueza é algo que deve causar vergonha.” – Confúcio

“Num país bem governado a pobreza é algo que deve causar vergonha; num país mal governado a riqueza é algo que deve causar vergonha.” – Confúcio

Mas talvez haja algo a dizer. Alguns dos demagogos mais proeminentes ao serviço da elite de poder têm recentemente saído da sombra para voltar a comentar aqui e ali certos detalhes do que vai acontecendo. Parte do que este blogue e a Irmandade de Némesis andaram a dizer parece que se tornou óbvio para estes senhores – a solução prescrita não é a mesma mas falaremos disso mais á frente. Parecerá com certeza estranho a qualquer pessoa que comentadores profundamente integrados neste sistema tenham ganho uma consciência, compaixão ou empatia nos últimos meses. Obviamente que não se trata de qualquer sentimento de culpa ou de responsabilidade para com a população que atraiçoaram, por bem menos que as tradicionais trinta moedas de prata. A estratégia da elite parece estar em mudança. Devido em grande parte à sua incompetência crónica (e dado que se trata de um grupo praticamente endogâmico penso que não seria ir muito longe dizer que é genética) para gerir os seus próprios interesses a elite de poder criou um pequeno inferno neste país. Mas claro que nunca nenhum destes senhores feudais pensou que isto afectasse os seus próprios protegidos/afilhados/família ou que de forma alguma pudesse vir a ameaçar a sua predominância social ou mesmo, em alguns casos, sobrevivência. Esqueceram-se do resto do mundo. A sua visão tipicamente provinciana e saloia é de tal forma estreita que ignorou que eles não são os únicos protagonistas na política e economia mundial. Não passam de actores secundários, muitas vezes nem isso, e que os seus insignificantes objectivos e ambições são facilmente aniquilados por outras elites mais dinâmicas, competentes e com maior poder. Esta desvantagem intelectual é algo que não conseguem resolver sozinhos. Nem estão dispostos a deixar que alguém interfira no assunto. Antes de permitirem que alguém partilhe o leme do barco preferem que vá ao fundo. Como irónica e perspicazmente Napoleão terá comentado com o seu ministro dos negócios estrangeiros, Talleyrand, acerca da dinastia dos Bourbon: esta elite nada esquece e nada aprende. Por muitas viagens que façam a Londres, por muitos MBAs que tirem, por muitas compras que façam na Place Vendôme, por muitos brinquedos tecnológicos americanos que acumulem ou por muito que se tentem tapar com a última moda de Milão não conseguirão jamais deixar de ser o que sempre foram: merceeiros mesquinhos a quem falta qualquer tipo de visão estratégica quer para si quer para os que dominam através de coerção e medo.

“O rico comete uma injustiça e ainda se mostra altivo; o pobre é injustiçado e ainda precisa de se desculpar.” – Eclesiástico 13:3

“O rico comete uma injustiça e ainda se mostra altivo; o pobre é injustiçado e ainda precisa de se desculpar.” – Eclesiástico 13:3

Colocados em cheque na sua própria casa a elite de poder teve que começar um processo de reposicionamento dos seus peões. Confrontados com uma situação que começa rapidamente a fugir ao seu débil controlo começam a abandonar alguns dos seus aliados políticos tradicionais. Não deixarão de fazer os habituais negócios de renda garantida com o Estado ou colocar os rapazes das várias cores políticas como seus assessores e gestores, mas gradualmente deixarão a classe política assumir cada vez mais o peso moral das monstruosidades que vão fazendo. Dão instruções para que os seus agentes tomem posições algo mais críticas em relação aos erros de governação que entram pelos olhos dentro e que são impossíveis de vender à população como algo que não seja uma imposição hierárquica caprichosa. Em suma, estão a distanciar-se tacitamente. Assumem pela primeira vez, desde o seu regresso do exílio a que foram remetidos em 1974, que talvez o regime democrático, tal como o conhecemos, não sobreviva e querem estar numa posição mais cómoda para negociar com o que vier a seguir. A forma como a questão está a começar a ser posta perante a população é clássica. Escolher entre dois cenários convenientes e apresenta-los como as únicas alternativas viáveis, sabendo de antemão que ambos servirão de forma adequada os seus interesses.

“A ferramenta básica para a manipulação da realidade é a manipulação das palavras. Se se conseguir controlar o significado das palavras consegue-se controlar as pessoas que são obrigadas a usar as palavras” – Philip K. Dick

“A ferramenta básica para a manipulação da realidade é a manipulação das palavras. Se se conseguir controlar o significado das palavras consegue-se controlar as pessoas que são obrigadas a usar as palavras” – Philip K. Dick

O cenário preferível é o que vivemos já actualmente e aposta acima de tudo num certo grau de continuação da passividade popular. Manifestação à porta do ministério A, protesto junto à Câmara Municipal B, greve na empresa C, etc. Tudo somado dá em nada. Prossegue o processo de transformação de Portugal num país de terceiro mundo dentro da União Europeia que presta tributo (uso a expressão literalmente) a Berlim sobre a forma de um juro perpétuo de uma dívida que nunca poderá ser saldada através das instituições Europeias e bancárias. O segundo cenário é algo mais complicado mas ainda assim desejável do ponto de vista da elite de poder. Trata-se de deixar que o regime se consuma a si mesmo. Sem nunca se colocar como uma oposição clara mas permitindo que a classe política leve as coisas até ao ponto de rotura. Nesse momento será apresentado o seu homem providencial que implorará em lágrimas que o deixemos impor ordem na casa, a bem da nação – de forma generosa, exigirá apenas a nossa abdicação dos poucos direitos e liberdades de que ainda dispomos. O risco neste caso é fácil de entender. Qualquer regime que entre em fase terminal perde o controlo sobre os seus próprios meios e é complicado conseguir prever quem sairá vencedor de qualquer conflito que deste género. Há uma possibilidade séria de o resultado não ser o desejado. Mas tal possibilidade pode ser contrabalançada. A nível interno com o apoio dos meios de comunicação leais aos seus empregadores e com doses generosas de financiamento que outros pretendentes menos cooperantes não irão dispor. E a nível externo não é segredo que a UE segrega do seu centro uma certa dose de “racismo” cultural face aos estados do Sul e que do seu ponto de vista um regime “musculado” pode ser visto como mal menor para lidar com os “bárbaros” e “irresponsáveis” desde que não afecte os seus planos a longo termo ou equilíbrios regionais. Seja qual for a escolha “livre” dos portugueses o que será inaceitável para a elite (e como tal nem é colocado como hipótese) é que a população se autonomize face aos seus interesses, que os senhores feudais sejam expulsos dos seus castelos.

“Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal.” – Maquiavel

“Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal.” – Maquiavel

Os testes iniciais de aceitação destes cenários já começaram há muito tempo. As reacções iniciais foram extremamente negativas junto do público geral, daí o seu adiamento até este momento. Mas o tempo e a pobreza desgastam e tornam o que não seria contemplável em algo possível e eventualmente em algo que seja visto como um mal menor ou mesmo necessário. O tempo de cenários hipotéticos acabou. As hipóteses já foram postas em cima da mesa em muitos círculos e já começam a ter a sua fase inicial de divulgação às massas em forma de pensamento coerente. É um processo em marcha. O tempo e o serviço dos mercenários intelectuais irá cristalizar e tentar enobrecer estas tácticas de perpetuação de dominação. Caberá, como sempre coube, aos cidadãos saberem resistir, defender-se e reconquistar o que é deles por direito. São os cidadãos que têm que gritar com convicção “Roma não paga a traidores!”.

O Enclave está com os cidadãos.

A Irmandade de Némesis está com os cidadãos

A Elite de poder cheira a podre e está putrefacta, mas ninguém a quer mandar limpar do passeio…

SIMBOLO IRMANDADE DE NEMESISPara qualquer cidadão que não esteja morto em vida, torna-se dolorosamente obvio constatar que uma elite de poder com as características que a actual exala, produz mau cheiro e produz consequências.

São lixo, como poderiam não produzir mau cheiro?

Problemas do olfacto aparte, uma das consequências desagradáveis que a elite de poder produz é a seguinte: a elite de poder subverte tudo ao seu redor.

Qualquer cidadão que não esteja morto em vida deve evitar recusar compreender isto.

Enquanto recusarmos compreender este óbvio ululante, estaremos auto colocados num plano ético e moral de qualidade inferior.

Num plano estratégico e táctico estaremos colocados em inferioridade quando confrontados com a elite de poder.

A recusa em ver paga-se caro.

2014-07-24 SWOT Matrix - elite de poder.pdf -

Mas, o que separa fisicamente e simbolicamente a elite de poder, dos restantes cidadãos? E, separação essa, que lhes permite subverter?

Duas características são claras e definidas.

Tem mais dinheiro que a generalidade da população.

Tem planos de mudança do sistema social mais racionais na prossecuçao desse objectivo.

O resultado: tem uma visão mais definida dos objectivos psicopatas que querem atingir.

A desvantagem: visão mais clara e mais dinheiro não significa melhor ou mais ética.

Apesar dessas hipotéticas e ilusórias vantagens comparativas nada está perdido.Existe tudo a ganhar na luta pela preservação do que existe e reconquista de tudo o que foi feito perder-se.

Como se chegou a esta situação?

SIMBOLO ENCLAVEEstas duas consequências desagradáveis (dinheiro + mudança de sistema) derivam directamente da liberdade excessiva e desproporcionada que concedemos à elite de poder, por lhe permitirmos que se comporte com os maiores desvios éticos, sociais e económicos que se podem conceber.

Porque aconteceu isto?

A um cultivo junto da população de laxismo social e cívico (promovido e patrocinado pela elite de poder) corresponde da parte desta um abandalhamento e um deslustre pelos assuntos que lhe dizem respeito (uma consequência comportamental auto promovida e derivada da cultura de subserviência rasteira que a elite de poder patrocina… )

Esta é a grelha mental.

Nas situações concretas do dia a dia, a generalidade da população acha (ou nem quer saber… ) que este manso “deixa andar” é um valor comportamental a preservar e que exigir algo de fundamentalmente diferente e melhor deve ser evitado fazer-se).

Esta é a grelha concreta.

A destruição social e econômica é visível.  física e psicológica. A esperança tornou-se tenue ou inexistente.

A conta que é apresentada é demasiado elevada. Tem saido caro, quer do ponto de vista pessoal, quer coletivo.

Esta é a grelha dos resultados concretos e do preço a pagar.

O que se pode fazer? Como combate-los?

Perceber que esta seita nada tem que a população precise; eles é que precisam da população.

Combate-los dizendo não. A recusa de apoiar é algo que apavora profundamente esta clique de oligarcas.

A separação da podridão deve ser cultivada pela população de forma intensa.

Eles estão podres e estão a sujar o chão. Recusamos que nos sujem o chão.

O Enclave diz não.

A Irmandade de Némesis diz não.

A elite de poder portuguesa vs a classe dominante

DEVIL WITH WINGS -WALL PAPERUm antigo dizer postula que o melhor truque que o Diabo alguma vez fez foi o de convencer todos que não existia.

Quanto ao Diabo desconhecemos a veracidade deste antigo dizer.

Mas estamos certos que o melhor truque que a elite de poder portuguesa alguma vez fez foi o de convencer os membros da classe dominante que estes eram efectivamente membros da classe dominante e que ambos os estratos sociais eram unos e dominavam em conjunto.

Uma classe dominante é um miserável apêndice, bem vestido e bem lavado, atarrachado com parafusos sociais oleados a hipocrisia e cinismo, a uma elite de poder. Ambas parecem o mesmo, mas a verdadeira natureza de ambas é inteiramente diferente.

Uma classe dominante aparenta possuir características semelhantes às da elite de poder: imenso dinheiro quando comparada com a restante população, eventualmente fama ou prestigio, poder pessoal ou profissional, aparente notoriedade, projecção de imagem de poder, imagem social de distinção.

Devido a estas características aparentemente semelhantes, a classe dominante é convencida pela elite de poder a entrar em modo “auto ilusão”, quer por iniciativa rastejante própria, quer porque foi educada pelos auto nomeados mestres do sistema a sentir-se assim e a convencer-se que é verdade.

Parecem todos o mesmo; não o são efectivamente.

E quando a capacidade para promover destruição que a elite de poder possui levanta a sua feia cabeça, a classe dominante é posta na sua verdadeira dimensão e manda o mesmo que a generalidade da população assim não reconhecida como tal: pouco ou nada.

Meramente nada.

O objectivo deles: promover  " isto" e a instabilidade pessoal e profissional que decorre da promoção "disto".

O objectivo deles: promover ” isto” e a instabilidade pessoal e profissional que decorre da promoção “disto”.

 ⇒ Quem possui o poder real e verdadeiro é a generalidade da população.

Um poder formidável que, por culpa e desleixo próprio e porque é educada desde o berço a esquecer-se de quem verdadeiramente é, a generalidade da população não reconhece  como existente, nem reconhece isso em si.

Acaso a generalidade da população tenha vislumbres desse seu poder, hesita em reconhecer isso em si, e raramente age.

Os beneficiários e incentivadores desse esquecimento são os que exercem uma influencia insidiosa com o objectivo de ajudarem a controlar melhor as pessoas e impedi-las de reclamar aquilo que é seu e aquilo a que tem direito: emancipação e autonomia.

 ⇒ A classe dominante julga-se quase o inverso.

Julga mesmo que manda verdadeiramente em alguma coisa e julga mesmo que tem mais poder do que na realidade tem. Verdadeiramente, são apenas servos com mentalidade de micro déspotas, apenas mais bem pagos (um pequeno preço a pagar pela corrupção subserviente que desta gente deriva, mas que a elite de poder não se importa de pagar, dados os beneficios enormes que dai retira… ), mas que apenas circulam e estão ao  dispor dos caprichos da elite de poder e dos seus verdadeiros desejos.

A classe dominante passa anos, décadas, séculos a servir os propósitos da elite de poder. No fim é igualmente traída e abandonada à sua sorte quando a elite de poder destrói recursos e possibilidades e as consequências disso mesmo se tornam demasiado visíveis.

Roma não paga a traidores nem aos que assassinam os seus generais”.

Quintus servilius Caepio, General romano.

É por este adágio que a elite de poder vive, e pelo qual a classe dominante morre.

A propósito desta caixa de comentários.

A elite de poder como cancro que promove a corrupção ética

A elite de poder portuguesa criou e organizou um sistema político, social, económico e psicológico aberrante.

Séculos desta aberração caótica tem sido enfiados pelas gargantas dos portugueses, usando para isso os mais variados regimes políticos e sociais.

Todos tem falhado.

Clamorosamente e com estrondo.

Ao longo desta linha temporal civilizacional aberrante existem, pelo menos, duas coisas aberrantes e constantes.

Uma, as falhas sistemáticas e repetitivas de todos os modelos que tem sido experimentados, com os constantes ressaltos em termos de humilhação e degradação (custos psicológicos e monetários destas falhas que são sempre enviados para a população pagar), sendo as falhas constantes destes modelos devidamente e corruptamente apoiadas pelos atores económicos e sociais presentes no terreno.(a culpa própria destes é sempre desvalorizada ou convenientemente esquecida)

Outra, a omnipresença dentro do sistema social, económico, político e psicológico português de uma ” elite de poder”, parasita, decadente, maldosa, arrogante, incapaz,  perigosa para si própria e para a população e que criou um sistema em que se auto transforma em inimputável perante terceiros (a população).

CORRUPÇÃO POLÍTICA EM GERAL

Este sistema, apesar de profundamente corrompido e absurdo, tem objectivos.

Um dos principais consiste em fazer jorrar de forma ininterrupta, para os membros da elite de poder, e respectivos associados e famílias, beneficios ilegítimos e amorais e amplificar a partir dessa base, o enorme poder que já possuem.

Contudo, nos tempos actuais, entre as duas ultimas décadas do século 20 e o principio do século 21, a ” elite de poder” entrou em depressão psicológica. Sentia-se profundamente oprimida e injustiçada com o grau de beneficios ilegítimos e amorais de que se apropriou indevidamente e amoralmente.

Acha pouco.

Decidiu aperfeiçoar o processo.

elite de poder em confabulação

Simpósio cultural do século passado onde foi decidido pela elite de poder concessionar aos serventuários a tarefa de corromper mais ainda a população – imagens inclusivas Enclave

Chocada e profundamente emocionada por descobrir que ” as massas” estão a agitar-se e recusam perceber qual a razão de ser que justifique serem atribuídos beneficios ilegítimos e amorais à “elite de poder”, decidiu mostrar de forma mais abrangente a sua reacção ao problema.

Passaria a ser considerado necessário que as massas ignaras e mal agradecidas “olhassem” para a realidade com as mesmas lentes que a ” elite de poder”.

Para executar de forma plena, esta javardice social, económica, política e moral; concessiona à pequena legião de serventuários corruptos e amorais que a servem, uma missão a cumprir.

Subverter.

Os pulhas contratados deveriam, por todas a formas possíveis, procurar induzir na restante população, ignara e mal agradecida, os próprios vícios que a ” elite de poder” tem ( para as massas passará a ser vendida corrupção Low-Tech… e em ambientes controlados…)

Os serventuários rastejantes e degradados, procurando agradar aos amos e senhores, (para serem pagos em corrupção de média qualidade, futuramente…) tem trabalhado com denodo e afinco.

SERVILISMO - PÉS

As cortinas tem sido abertas e entra a corrupção ética, moral, pessoal, entra o suborno social e pessoal, a omissão, a mentira, o logro, a decepção, entra o cinismo e a hipocrisia, a crueldade social, a destruição da capacidade critica, a destruição da dignidade, a humilhação como forma de comportamento das pessoas umas para com as outras, a hierarquização artificial de comportamentos na sociedade e no mundo do trabalho, entre muitas outras características detestáveis que a elite de poder mandou impor.

Os estragos observam-se, quer na forma material, quer simbolicamente.

O axioma é simples: se a “elite de poder” é profundamente corrupta, em todas as dimensões, então as massas ignaras devem se-lo tambem.

servilismo - TerencioPara a “elite de poder” o seu próprio comportamento é que é o ” comportamento brilhante e civilizado”. A porcaria que emana da ” elite de poder” é sempre considerada estrume de alta qualidade e baixo cheiro.

A arrogância e o orgulho desproporcional desta ” elite de poder” faz o resto: é necessário despejar para cima da população o seu próprio comportamento devidamente publicitado e vendido como ” modelo a seguir”

Se a população recusar ou não perceber, ou se aceitar, mas for incompetente a mimetizar o comportamento da elite de poder, há que aumentar o condicionamento para a fazer aceitar, quer queira quer não queira.

É o momento “marxista igualitário” da “elite de poder”.

Disseminar em todos os estratos da sociedade a corrupção ética (entre outras formas) mas, nas classes consideradas mais baixas a corrupção será sempre mais nivelada por baixo e tenderá sempre a servir os propósitos totalitários e os esquemas mentais da “elite de poder”.(para as classes mais altas em termos financeiros, fica guardada a corrupção de idêntico baixo nível ético, mas altos proveitos financeiros e maximização de poder…)

A elite de poder gosta do Facebook. Muitos dos serventuários (Minions) corrompem aqui.

A elite de poder gosta do Facebook. Muitos dos serventuários (Minions) corrompem aqui.

Os sequazes ao serviço da elite de poder, regra geral começam pela incitação social, coberta ou declarada, … das novas ” boas novas a serem seguidas…

Após incitamento conseguido, promove-se activamente condições subjectivas e objectivas para que estes segmentos de população (a maioria das pessoas) produza e viva (dentro de…) corrupção ética de baixa qualidade especificamente criada e incentivada para ser disseminada por esse tipo de população.

Estas técnicas subversivas e destrutivas de recursos físicos, materiais e éticos foram intensificadas e atacam a população, a sua dignidade e os seus princípios.

Incentivam a que a população ignore ou seja insensível á existência e propagação de maldade social. Que isto passe a ser um “adquirido” da comunidade tal como os frigoríficos ou os telefones. Que tudo seja a mesma coisa…

Da aceitação da maldade social e económica, como um bem a preservar, a defender, a usar por todos.

Esta indução de degradação nas classes sociais consideradas “mais baixas” visa assegurar à “elite de poder” totais beneficios para si própria e para os associados, família e serventuários, bem como promove a não existência de revoltas éticas na população.

As classes consideradas ” baixas ” estão ocupadas, demasiado ocupadas a serem convencidas a auto corromperem-se e a lutarem dentro de si, por nada.

Corrompem para manchar a população e pré condiciona-la. ( Verdade seja dita, que muita da população também se presta a esta figura ou nem percebe..)

CORRUPÇÃO - LADISLAU DOWBORO logro é obvio.

Se “somos todos corruptos”, a legitimidade de quem não o quer ser ou não o procura ser é minada.

A legitimidade de quem não o quer ser ou não o procura ser, mas é-o em pequeno grau (por coacção social, politica, económica, legal contra si exercida.. por incapacidade de lutar contra ) surge assim manchada.

Assim se procedeu a uma politica de institucionalização ” extra oficial” da corrupção, da quebra ética, do ataque a princípios democráticos e humanistas.

Qual é mesmo o preço que estamos dispostos a pagar, enquanto comunidade, por deixarmos as coisas estarem como estão ou eventualmente piorarem?

Estamos mesmo na disposição de viver dentro de medo constante, por causa dos movimentos hostis e parasitas de uma elite de poder como esta?

Toleramos estas aberrações que nos foram enviadas e se fazem passar por uma elite de poder que nada mais fazem que destruir recursos?

O Enclave diz não.

A Irmandade de Némesis diz não.

Eventos Fundadores

A tradição dos feriados nacionais (ou dias nacionais) remonta a tempos anteriores à escrita e visou sempre marcar os eventos fundadores da uma cidade ou estado. Nos últimos séculos a interpretação dada aos eventos tem transferido a sua natureza sacra para efemérides seculares mas sem grande alteração na sua razão de ser, trata-se sempre de um momento de identificação colectiva, com o todo do corpo político. Numa época de um individualismo mais vincado talvez não seja de estranhar que o significado dos eventos seja perdido e que a identificação popular seja afectada senão mesmo anulada. Em tempos idos uma Pólis celebraria o seu evento de fundação de forma totalmente colectiva, procissões presididas pelas estátuas dos deuses protectores seguiriam pela cidade, os cidadãos seriam reunidos nos maior espaço aberto disponível e seriam recitados os textos mais sagrados e o público viveria o drama divino que lhes permitiu existir. O triunfo da ordem sobre o caos seria afirmado e a renovação obrigatória teria tido lugar permitindo entrar num novo ciclo temporal, um reiniciar da criação se quisermos. Actualmente temos que nos contentar com bastante menos. Não só o individualismo corroeu bastante a possibilidade de nos identificarmos uns com os outros e com o sistema da nossa cidade/região/país como a própria ordem política e social sofreu danos graves à sua credibilidade. Morreu o desejo da renovação e da recriação para passar a existir um impulso de indiferença e mais tarde destruidor. A gravidade deste fenómeno não é reconhecida porque em termos de ciência política e económica tradicionais estas questões aparecem como algo simbólico que não afecta o substrato de realidade. Não podiam estar mais errados quanto ao papel e poder dos símbolos e a sua absoluta necessidade para qualquer grupo que não se quiser fragmentar. Mas faz parte da composição genética das elites modernas a arrogância e o orgulho desproporcional (e irrealista) no seu próprio “conhecimento”.

Eu encontrei um viajante de uma terra antiga Que disse:—Duas gigantescas pernas de pedra sem torso Erguem-se no deserto. Perto delas na areia, Meio afundada, jaz um rosto partido, cuja expressão E lábios franzidos e escárnio de frieza no comando Dizem que seu escultor bem aquelas paixões leu Que ainda sobrevivem, estampadas nessas partes sem vida, A mão que os zombava e o coração que os alimentava. E no pedestal estas palavras aparecem: "Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!" Nada resta: junto à decadência Das ruínas colossais, ilimitadas e nuas As areias solitárias e inacabáveis estendem-se à distância.

Eu encontrei um viajante de uma terra antiga
Que disse:—Duas gigantescas pernas de pedra sem torso
Erguem-se no deserto. Perto delas na areia,
Meio afundada, jaz um rosto partido, cuja expressão
E lábios franzidos e escárnio de frieza no comando
Dizem que seu escultor bem aquelas paixões leu
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas partes sem vida,
A mão que os zombava e o coração que os alimentava.
E no pedestal estas palavras aparecem:
“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!”
Nada resta: junto à decadência
Das ruínas colossais, ilimitadas e nuas
As areias solitárias e inacabáveis estendem-se à distância.

Os nossos amos e senhores pensam, de forma simplista, que as pessoas se mantêm presas a determinadas instituições e realidades por puro hábito e que qualquer alternativa nunca teria peso ou relevância suficiente para abalar o status quo. Não se quer admitir que esses laços formaram em algum momento histórico uma ligação emocional eficaz, ou seja, reflectiam uma realidade e que a sua manutenção depende da continuação da sua eficácia que por sua vez depende da sua renovação periódica. Pensam que se pode fragmentar o real (aquilo que é criado no momento fundador) em mil pedaços sem que as pessoas percam o seu norte, sem que reajam de forma apropriada ao caos que ameaça infiltrar toda a sua existência. Nas suas ilhas de estabilidade social e económica as elites chegam mesmo a acreditar que esta divisão fortalece o seu poder ao tornar os cidadãos mais indefesos e isolados mas esquecem-se de um facto muito simples: o caos não descrimina, infiltra-se lentamente, destrói todas as bases e cria possibilidades e situações que nunca fizeram parte das intenções originais. As elites vivem na ilusão que conseguem domar o dragão do caos, um acto de suprema arrogância e vaidade.

"A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda"

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”

Sem a repetição da criação a ordem decai, lenta mas seguramente. Não há nada que possa ser feito a esse respeito. Não há soluções tecnocráticas que possam substituir o símbolo e aquilo que está subjacente a ele. Sem uma reposição do ciclo de ordem não há recuperação da confiança implícita que forma a base de todo e qualquer grupo. Sem a compreensão da efectividade dos laços interpessoais não há necessidade que consiga suprir permanentemente as correntes de desunião que empurram as pessoas, cada vez mais, para abismos existenciais. Se não olharmos para o estado deplorável das nossas celebrações de fundação como um sério aviso para a degradação que espreita no horizonte estaremos a viver uma ilusão. Sem fundamento a Pólis afunda.

(Mini) Manifestos tecnocráticos

Se há algo de que podemos todos estar seguros é que os meios de comunicação são inteiramente neutros em Portugal. Não são dados a preferências ocultas ou a servir agendas ideológicas de forma encapotada. A verdade e apenas a verdade. Não será então de estranhar que nos tenham presenteado com esta publicidade ao mais recente manifesto dos tecnocratas do sistema político-económico. Num pequeno vídeo explicam-nos tudo sobre as complexas realidades portuguesas, de forma simples, para não cansarmos os nossos cérebros.

"Pensar é o diálogo da alma consigo mesma" - Platão

“Pensar é o diálogo da alma consigo mesma” – Platão

Há muitos anos que o sector conservador investe imenso tempo e dinheiro em produzir obras, mais ou menos panfletárias, de divulgação das suas doutrinas – quais missionários que querem dilatar a fé e o império. São construídas especificamente para um público de classe média que que acha que deve ter opinião sobre determinados temas mas não está disposto a investir o tempo e esforço necessários para realmente entrar nas questões – todos somos demasiado ocupados hoje em dia e se as empresas podem fazer outsourcing de servidos porque não fariam as pessoas o outsourcing das suas ideias? O resultado é a propagação quase inevitável de uma visão enviesada da realidade, que leva a absurdos lógicos quando seguida até às suas consequências finais, estragos sociais provavelmente irreparáveis totalmente previsíveis e à solidificação de uma mentalidade de respostas e análises simplistas que evitem todas as coisas feias, como o confronto com a realidade empírica.

“The real political task in a society such as ours is to criticize the workings of institutions that appear to be both neutral and independent, to criticize and attack them in such a manner that the political violence that has always exercised itself obscurely through them will be unmasked, so that one can fight against them.”  - Michel Foucault

“The real political task in a society such as ours is to criticize the workings of institutions that appear to be both neutral and independent, to criticize and attack them in such a manner that the political violence that has always exercised itself obscurely through them will be unmasked, so that one can fight against them.” – Michel Foucault

Não acredita no que digo caro leitor? Olhemos então para o conteúdo do fantástico vídeo promocional que nos foi proporcionado (será de notar que a página do jornal contém a penas um vídeo com discursos dos autores, não há sequer a tentativa de fingir que se trata de uma análise jornalística ou minimamente crítica), ponto por ponto.

– Porque é que os economistas acham que têm sempre uma resposta para tudo? Ao contrário do que é afirmado pelos autores não é que haja uma procura popular de respostas junto dos economistas. A questão é que o culto ao deus mercado que tem sido imposto por todo o mundo tem por corolário a criação de uma casta “sacerdotal” de “iluminados”, que através de teorias e livros sagrados interpreta a vontade desta tenebrosa divindade. Foram os próprios economistas que se colocaram neste papel oracular e do qual não abdicam nem que tenham que reduzir toda a existência humana à mera troca de bens, serviços e promessas de pagamento. Como tal, regularmente saem dos seus transes e dizem-nos os sacrifícios que devemos todos fazer para apaziguar o seu deus. A economia, como é praticada hoje em dia, está um degrau abaixo da adivinhação através das entranhas de animais.

– Porque não há dinheiro para pagar as nossas reformas? De forma fantasiosa os nossos “rebeldes” (bem institucionais) querem-nos fazer crer que a segurança social é uma espécie de fraude que nunca fez sentido e que nunca será sustentável. Isto é a melhor tradição da escola de Chicago, uma série de premissas mal explicadas, ligadas por um raciocínio dúbio que levam a uma conclusão incrível, que implicitamente quer levar quem os ouvir e ler a pensar que no fundo todo o sistema devia ser privatizado (a subtileza é o leitor chegar a essa conclusão “sozinho”). Claro que nunca entra nos esquemas mentais dos altos sacerdotes do deus mercado que a segurança social nunca foi suposto ser lucrativa ou sequer ser um negócio. Sempre foi suposto ser um encargo que era assumido pelo estado em nome de uma estabilidade social acrescida. Que no fundo se trata de uma questão que sempre foi e deverá permanecer política. É igualmente omitido que em caso de privatização as empresas detentoras dos planos de pensões passam a poder restrutura-los a qualquer altura e que quando forem à falência todos os pagamentos cessam. Não se diz que este cenário, algo negro, já aconteceu em mais que um país que privatizou a sua segurança social. Não se fala nos milhões que ficaram sem pensão estatal e sem pensão privada, literalmente a trabalharem até poderem e até morrerem.

– Porque é que há tantos prédios em ruinas no centro de Lisboa e Porto? Aqui o vilão na história dos nossos rebeldes é o congelamento dos arrendamentos que passa a ser culpado pela decadência urbanística. Que a esmagadora rendas já não reflictam essa distorção, que as pessoas ainda afectadas essencialmente não têm como sustentar qualquer tipo de “preço de mercado” não entra na equação. Os novos sem abrigos não membros produtivos da sociedade e como tal não merecem uma só palavra. São remetidos ao mesmo silêncio dos pensionistas em regime privado que ficaram sem nada. Numa nota particularmente perversa o exemplo de fundos que detêm propriedades é obviamente público, esquecendo claro que os fundos bancários em muito ultrapassam a posse estatal.

– Porque é que há tantos professores e as turmas têm alunos a mais? Aqui foge, um pouco, a boca para a verdade aos nossos nobres curas conservadores. De facto há muitos professores em situação irregular que não têm horários dignos desse nome. De facto há professores em funções de administração que deveriam ser desempenhados por burocratas. Mas falta dizer que tudo isso foi consequência das reformas para “racionalizar o sistema de ensino”. Que o interesse servido em tais reformas não foi, como é dito, o dos professores mas o sim o de privados que ganham com a desvalorização do serviço público. Mas enfim, isso afecta apenas quem colocar os filhos no público portanto também vai para o mesmo tumulo silencioso que os pensionistas depauperados e sem abrigo.

Como vê caro leitor em pouco mais de cinco minutos de vídeo foi possível simplificar e distorcer situações relativamente simples ao ponto de alterar radicalmente a perspectiva de qualquer cidadão menos dado à reflexão por conta própria. Ainda está seguro que está a obter uma análise séria e realista por parte de comentadores institucionais e/ou “rebeldes”?

A pacata fogueira das vaidades

O que leva ao fracasso de tantas iniciativas que visam criar uma “esfera pública” em Portugal? Talvez parte da resposta esteja nos nossos hábitos e vícios nacionais entre os quais se destacam visivelmente a tendência natural para a obediência a qualquer autoridade estabelecida e uma falta visão que não seja inteiramente centrada sobre nós mesmos. A primeira causa é preocupante não tanto pelo facto de existir mas pelas razões que existe. Além de provar que não se saiu, totalmente, de uma certa visão inquisitorial e que se temem represálias demonstra também abundantemente a habilidade que é inculcada, desde a mais tenra idade, na maioria dos portugueses para estarem do lado que de quem “vence” – na expectativa clara de colher os benefícios que advêm de ter um patrono. Está-se preso num esquema mental em que não existe verdadeira autonomia individual, nem se procura tal coisa. A segunda causa será mais complicada de tentar compreender porque falham causas históricas imediatas. Não há nenhum trauma no nosso passado, recente ou antigo, que possa explicar claramente esta tendência preocupante entre os portugueses. O solipsismo mais nu e cru é o pão nosso de cada dia em qualquer convívio social que se possa ter. A isto haverá ainda a acrescentar a constante procura por “etiquetar” cada pessoa de acordo com uma complexa escala que inclui várias componentes: valor financeiro do individuo, posição organizacional, laços familiares, lugar na ordem social (as clique em que se encaixa), potencial influência sobre outros, etc. O solipsismo combinado com uma hierarquização patológica de toda e qualquer pessoa com que se interaja torna o qualquer diálogo (ou partilha de seja o que for) quase impossível já que se desloca o fulcro do tema em cima da mesa, e dos argumentos que cada um é capaz de criar, para uma interacção quase que ritual onde cada um tenta dominar, por simples peso das suas circunstâncias, os outros. Eventualmente uma espécie de “ordem” é estabelecida onde se convenciona que quem tem mais “peso” (monetário, social, etc) deve poder fazer a sua opinião vingar, independentemente dos seus méritos reais. E isto é tudo visto como o normal desejável. É raro encontrar sociedades tão obcecadas com o posicionamento social e ao mesmo tempo tão preocupadas em esconder essa mesma preocupação – o único caso semelhante mais numa escala ainda superior será talvez o Japão.

Thus no member of the commonwealth can have a hereditary privilege as against his fellow-subjects; and no-one can hand down to his descendants the privileges attached to the rank he occupies in the commonwealth, nor act as if he were qualified as a ruler by birth and forcibly prevent others from reach­ing the higher levels of the hierarchy through their own merit." - Kant

“Thus no member of the commonwealth can have a hereditary privilege as against his fellow-subjects; and no-one can hand down to his descendants the privileges attached to the rank he occupies in the commonwealth, nor act as if he were qualified as a ruler by birth and forcibly prevent others from reach­ing the higher levels of the hierarchy through their own merit.” – Kant

Nesse sentido partilhamos pouco do individualismo que, teoricamente, deveria caracterizar as sociedades ocidentais (a não ser nos pontos supérfluos do consumismo ou nos negativos como a indiferença). Talvez por isso tenda a ser complicado ter uma verdadeira opinião pública, já que ela só se pode formar depois dos “notáveis” terem dado o seu parecer e terem enquadrado para o público em geral o espectro de opiniões que são consideradas aceitáveis. O desvio trás consigo penalizações. Sempre. Do ostracismo, assassinato de carácter e limitações profissionais nada é de excluir como possível. Tudo depende do grau da “ofensa”.  É reminiscente de tribalismos que, enquanto sociedade, gostaríamos de acreditar ter deixado para trás há muito e é sem qualquer dúvida uma das principais causas da notória passividade nacional.

"In statesmanship get the formalities right, never mind about the moralities.” - Twain, Mark

“In statesmanship get the formalities right, never mind about the moralities.” – Twain, Mark

Mas se a realidade social é esta então para que servem os constantes apelos das elites à sociedade civil? A resposta mais provável é que servirão para transferir o ónus da acção para uma entidade, a “vontade popular”, que não é capaz de agir, por não ter autonomia ou, se quisermos ser mais radicais, por não poder existir nas condições actuais. Cria-se um sentimento de culpa colectiva pela inacção tendo-se noção que, apesar das imensas responsabilidades pessoais de cada um, não estamos numa sociedade capaz de acção colectiva que não seja direccionada de cima. Podemos ter a confirmação deste facto por observação dos partidos políticos portugueses. Olhando para a sua acção e discurso vemos instituições que só superficialmente se modernizaram. Adoptaram os discursos que ouvem circular nas elites europeias (sendo francos apenas adoptam versões simplificadas porque não têm grande capacidade de síntese) e mantêm uma orgânica de funcionamento típica de movimentos políticos de há meio século. Dando um exemplo concreto: o comício ou discurso. Ao mesmo tempo que se pedem contribuições individuais (por formalismo apenas) do militante base adopta-se um estilo de decisão opaco, repleto de secretismo e dominado por individualidades com ligações ao mundo económico ou longas carreiras institucionais dentro do partido. Mesmo o discurso público das lideranças pertence a uma época diferente já que proíbe, de facto, qualquer intervenção exterior, o que é pedido é que seja ouvido e aplaudido, nada mais é bem-vindo. Isto é uma relíquia de tempos passados na maior parte do mundo ocidental mas em Portugal tem sido mantido pelas nossas idiossincrasias, pela nossa obsessão com o culto ao à hierarquia, com uma dependência existencial face ao poder. Sem que cada cidadão se liberte interiormente da carga de servilismo, que culturalmente carrega (quer o aceite racionalmente ou não), o que assistimos na “esfera pública” não passará nunca de um exercício académico de ciência política.