Há muito tempo que a Irmandade de Némesis avisa os leitores do enclave para o risco da criação de bodes expiatórios como forma de escape de energia e tensões sociais e hoje temos o exemplo perfeito. A produção teatral que está hoje a ser encenada com toda a pompa e circunstância na Assembleia da República a propósito de bancos e banqueiros encaixa perfeitamente neste quadro mental e político decrépito.

“Não há inocentes; só aqueles que ainda não nasceram ou os que já estão mortos podem aspirar à inocência” – Stig Dagerman
Num regime onde o que une as elites é uma pertença social e onde a comunicação entre os membros dessa elite atravessa, fácil e diariamente, as linhas partidárias todos querem dar prova de ser valentes defensores do cidadão e da justiça. Os ilustres deputados, quais defensores dos pobres e oprimidos numa fábula medieval, esmeram-se em perguntas ultra pertinentes para mostrar que a) eles são puros, b) condenam tudo o que terá passado e c) estão do lado do cidadão comum.
Há alguns problemas com esta versão das coisas. Quando se quer apurar a verdade de algo não se nomeiam 24 pessoas para o fazer, nomeia-se um responsável. Quando se quer obter a verdade não se transmite a investigação em directo e a cores para todos verem, as audiências fazem-se à porta fechada. E em último lugar dá-se poderes a quem investiga para de facto fazer alguma coisa, seja punir ou recompensar. Assim sendo parece que objectivo é mesmo dar um espectáculo ao país, um pouco de circo. E ao mesmo tempo ilibar a classe política como um todo para ficar bem claro ao ingénuo cidadão que tudo isto é muito lamentável mas foi algo que sempre esteve completamente fora do alcance do poder político prevenir.
A baixeza e manipulação que o regime faz destas situações é inqualificável na sua falta de consideração para com o cidadão. É um insulto à inteligência da nação. A Irmandade de Némesis está atenta. Os Irmãos levantaram o véu das farsas operáticas que o regime e as suas instituições teceram sobre a realidade. Não seremos enganados. Não queremos uma vítima sacrificial para satisfazer os deuses, queremos uma justiça completa e total. Só nessa base poderá Portugal reerguer-se.
A Irmandade de Némesis rejeita o teatro parlamentar como forma de se estar na vida pública.
A Irmandade de Némesis não compactua com a elite de poder.
A Irmandade de Némesis está com o cidadão.
A absoluta certeza da imobilidade de uma convicção é factor dissuasor da corrupção. Penso que os cidadãos têm de se afirmar, reconquistar a sua individualidade, a lógica colectiva não é nem pode ser algo que ultrapassa o individuo. Porque será que é tão fácil convencer alguém de qualquer coisa? Muitos dos nossos concidadãos parecem já ter aceitado um papel secundário na sua própria vida, esta desistência não só é inaceitável como menoriza e destitui. A fragilidade subjacente à noção de “existir” sem sujeito é a primeira e a maior das derrotas.
Caro anónimo,
Os cidadãos deviam de facto exigir o seu poder e dignidade de volta, mas na sua maioria não fazem. Acabam quase sempre submersos num frenesim de actividade social (online e real) que serve apenas para mascarar a sua fraqueza face aos poderes reais e à sua, péssima, posição estratégica. Uma espécie de mecanismo de compensação psicológica.
Só mascara quem tem consciência de algo e penso que o cidadão comum não tem essa consciência mas concordo consigo quanto ao mecanismo de compensação psicológica. Tenho muitas dúvidas sobre a consistência e estruturação do pensamento da maioria dos cidadãos.
Cumprimentos
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